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Conheça Amyr Klink: o brasileiro ilustre que foi a primeira pessoa a atravessar o Atlântico Sul a re


Quantas pessoas você pode dizer que realmente admira? Muito poucas, posso imaginar. Está cada vez mais difícil poder admirar as pessoas. Viver numa época em que impera o cinismo, a mentira, o discurso de ódio, a covardia dos poderosos e a corrupção em todas as suas facetas, faz-nos sentir que sobra muito pouca gente para se admirar e tomar como exemplo de virtude. Talvez isso seja só uma impressão. Talvez esses exemplos sempre tenham sido a exceção.


Seja como for, hoje eu vou contar para você a história de uma exceção que faz com que eu me sinta orgulhoso de ser brasileiro. Conheça agora Amyr Klink, o brasileiro que foi a primeira pessoa a atravessar a remo, e sozinho, o Atlântico Sul!


A ideia


Amyr Klink nasceu na cidade de São Paulo em 1955. Seu interesse pela navegação começou quando ele era estudante de Economia da Universidade de São Paulo (USP). Para evitar ser vítima de trote na faculdade ele chegava de moto às 4h da manhã e entrava pela janela da sala de aula. Numa dessas manhãs ele descobriu os treinos de remo na raia olímpica da universidade e decidiu entrar para a equipe.


Uma década depois, veio a ideia de atravessar o oceano Atlântico a remo. Em uma entrevista para o programa Roda-Viva, da TV cultura, Klink comenta como a ideia surgiu: “Eu gosto de ver como as coisas funcionam. Como as máquinas funcionam, como as cidades nascem, crescem. Eu gosto de mostrar que as coisas que parecem muito difíceis na verdade são muito fáceis.”


A aventura


Após ter visto o fracasso de várias pessoas tentando cruzar o oceano, Klink percebeu que o problema era o barco. Os barcos capotavam na água e as pessoas desapareciam no meio do oceano. Foi assim que ele decidiu criar um barco incapotável com a ajuda de um projetista. Juntos eles concluíram que isso seria impossível e decidiram inverter a lógica, ou seja, seria melhor construir um barco que fosse preparado para capotar, e se fosse necessário, o barco capotaria o caminho inteiro até a África.


(Amyr Klink em 1984, saída e chegada)



E funcionou. No caminho, os obstáculos apareciam constantemente. As horas de sono, assim como as tempestades, eram extremamente perigosas, pois deslocavam o barco da rota correta; ventos fortes e ondas de 16 metros de altura perto da costa africana desafiavam a obstinação de cada remada; a aproximação de tubarões e outros animais marinhos causavam preocupação e assombro. A viagem durou cem dias e seis horas, mas ele chegou são e salvo.


Depois dessa viagem, em 1989, Amyr Klink construiu um veleiro e foi sozinho à Antártida, onde ficou preso por 7 meses no gelo da Baía de Dorian, numa viagem que durou um ano.


(Amyr Klink na Antártida)


Rotina e Planejamento


Em uma entrevista à Folha de São Paulo, Amyr Klink comenta que “as pessoas ficam fascinadas com as viagens, mas desconhecem que, por trás de cada sucesso há um caminhão de desastres.”


O segredo para Amyr Klink foi estabelecer uma rotina e perseverar nela até o fim. Essa rotina começa antes de se jogar no mar, com meses de preparação e estudo para cumprir o objetivo. Ninguém nasce sabendo e ninguém aprende nada sem sacrifício e disciplina. O jeito é sentar, estudar e seguir passo a passo o que foi planejado, sempre com a cabeça aberta para escutar quem entende mais sobre certos assuntos. Por isso, Klink decidiu superar o orgulho e pouco a pouco foi buscando as informações com especialistas sobre nutrição, astronomia e engenharia.


Naquela época o GPS ainda não existia, nem as membranas de osmose reversa para dessalinizar a água do mar. Como a bússola não serve para o mar, ele teve que estudar astronomia durante meses; e para não sobrecarregar o barco ele decidiu não levar comida desidratada, mas sim alguns alimentos que poderiam ser preparados utilizando a água do mar, como purê de batata, arroz pré cozido etc.


Livros


Após a travessia do Atlântico Sul, Klink decidiu escrever um livro sobre sua experiência e em 1985 publicou “Cem dias entre Céu e Mar”, que foi um sucesso editorial. Klink mostrou assim seu lado literário, contando sua experiência de um modo extremamente vivo, com uma escrita simples e penetrante. Mais tarde, publicou mais livros sobre suas outras aventuras.


A Cultura da Ação


Talvez as pessoas que mais nos inspiram sejam aquelas que nos fazem sentir vergonha de nossa própria inação. Nesse sentido, é possível que a virtude de Amyr Klink não seja somente sua coragem e obstinação, mas também sua capacidade de dar exemplo através da ação.


Klink não gosta muito das coisas já prontas, ele fez a própria casa onde mora, que não tem energia elétrica. Fez todos os seus barcos do jeito que ele queria e planejou cada uma de suas expedições pela Antártida com suas filhas, mas o mais importante é que as expedições foram realizadas. Suas filhas hoje também escrevem livros e fazem palestras pelo Brasil. O legado do pai é inegável. A cultura da ação pode ser contagiante.


Em um comentário para o jornal Diário do Amazonas, Klink deixa claro:

“Sou conhecido no Brasil por ser um super planejador, mas chega uma hora que você precisa parar de ser um teórico e executar.”



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